Assisti na quarta-feira (26) ao Seminário "Transformação e Oportunidades", do qual participaram a Federação da Agricultura, Governo de MT e a ONG Movimento Brasil Competitivo. Confesso que há muito tempo não assistia a um desdobramento tão grande de provocações sobre temas tão vastos e relevantes como a reinvenção do Estado, a relação entre a iniciativa privada e o poder público, a divulgação do Estado e dos estados regionais sobre suas potencialidades para o país e para o mundo. Três palestras chamaram fortemente a atenção e provocaram mesmo a reflexão para os desmandos e infantilidade do poder público brasileiro na atualidade. Sem contar a relação preconceituosa do setor privado contra o poder público. E este, impotente diante dos marcos legais que regem a gestão pública. Uma licitação pode consumir anos até que se escolha um prestador de serviços para uma emergência que a realidade do país impõe.
Porém, quero hoje me deter na palestra de Marcos Troyjo, economista, sociólogo e diretor do BRIClab da Columbia University. Ele defendeu que Mato Grosso não pode continuar indefinidamente dependendo da demanda externa de commodities, ainda que nos próximos anos os alimentos serão fortemente demandados pela China agora e daqui a cinco anos pela Índia, ambos com mais de 1 bilhão de habitantes. É gente que está entrando numa nova ordem de alimentação até então reprimida pelo baixo PIB per capita nesses países.
Lembrou o caso da Argentina que há um século tinha o quarto maior PIB per capita do mundo (depois dos EUA, Inglaterra e França). Teve um imenso desenvolvimento alimentando-se da riqueza gerada pela Inglaterra com sua industrialização e expansão comercial mundial. Porém, ao longo do tempo as mudanças da economia reduziram a demanda pela carne, pelo couro bovino e pelo trigo argentinos, e o país não se sustentou e chegou ao estágio de empobrecimento atual, por causa da sua dependência das demandas externas.
O raciocínio foi dirigido ao Brasil exportador de commodities e a Mato Grosso, exportador de alimentos, especialmente para a China que neste momento representa o que representou para a Argentina a Inglaterra no século passado. A defesa de Troyjo é pela industrialização dos alimentos no estado, de forma a agregar o valor industrial ao conhecimento contido nos grãos, nas sementes, ETC. "Nenhum estado conseguiu sobreviver baseado apenas na sua produção de matérias primas", disse.
E um conceito final: "Mato Grosso não pode ser dependente das demandas externas", Amanhã, o desafio da educação, também discutido no seminário.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso. E-mail:onofreribeiro@terra.com.br www.onofreribeiro.com.br
Fonte: A Gazeta
Edição: Siagespoc_MT
Crédito Imagens: Google