- janeiro 29, 2018
LULA FORA DA DISPUTA – REFLEXOS
*Messias Rocha
Quem conhece minimamente o funcionamento do sistema judiciário brasileiro – prazos, recursos e burocracia – sabe que a manutenção da condenação de Lula, pelo TRF da 4ª região, não implica automaticamente no impedimento do registro de sua candidatura a presidente. Mas, suponhamos que esta questão se desenrole de modo mais célere, como vem acontecendo até agora, e Lula fique, sim, fora do pleito eleitoral deste ano. Isto provocaria consideráveis alterações nas pretensões de votos e no consequente quadro de favoritos a eleição. Pode-se dizer que todos os atuais pré-candidatos ganhariam, exceto Jair Bolsonaro; este só tem a perder com um campanha sem Lula. Explico.
Luiz Inácio é um político do perfil que Max Weber – fundador da sociologia – chamou de carismático, daqueles que o eleitorado segue não pelas ideias, mas pela pessoa. Em regra, todas as discussões envolvendo lideres desse tipo são conotadas pela paixão, e não pela melhor razão – esta é sempre fruto do equilíbrio, ou temperança, como preferiam os gregos antigos. Em resumo: Lula estressa o processo eleitoral; torna a disputa um verdadeiro fla-flu, na qual a discussão dialética, construtivista, não tem vez. Por ser a campanha o lugar por excelência onde os cidadãos decidem o futuro do país, e tudo o mais que isso significa, a falta de espaço para a razão só atrapalha chegarmos à melhor opção.
Do ponto de vista dos candidatos, Lula perde porque fica fora, Bolsonaro perde porque não tem mais um antagonista para apedrejar. Jair Messias Bolsonaro é um candidato fraco demais para suportar três meses de campanha com seu discurso vazio e apelativo. Na hora H o povo há de procurar candidatos propositivos, e Bolsonaro já não terá mais o discurso de anti-lulismo; aquela coisa de colocar tudo e todos na caixinha do petismo, comunismo, esquerdopatas e mais… não vai mais colar. E como ele passou 62 anos sem estudar, certamente não o fará agora para poder fundamentar o que (não) pensa, até porque não dá mais tempo. Bolsonaro perde também porque os brasileiros identificados com o discurso da direita terão candidatos bem mais refinados para lhes representar, dos quais Álvaro Dias (Podemos), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckimin (PSDB) são os expoentes. Este último anda meio amarrado com uns problemas na justiça: já aquela outra, Marina Silva, segue sendo a mesma Marina de sempre: morna; tão morna que nem sobre a tragédia de Mariana ela se posicionou! Ainda assim são bem mais respeitáveis que o deputado que está no sétimo mandato consecutivo e subestima a inteligência do eleitorado dizendo que não é político! Mas como o tempo vale muito, fico por aqui com as considerações sobre este lado do tabuleiro; não vale a pena desperdiçar neurônios e tempo para falar de Eymael, Levy Fidelix, Fernando Collor ou Luciano Hulk.
À esquerda haverá várias candidaturas: Manuela D´Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos do PSOL, Cristovam Buarque do PPS, Aldo Rebelo do PSB, Fernando Haddad do PT e Ciro Gomes do PDT. Manuela D´Ávila, embora seja bastante inteligente, parece ainda só chamar a atenção por sua beleza; Guilherme Boulos é um erro estratégico do PSOL, que deveria optar por Ivan Valente; Fernando Haddad, a despeito da sua respeitável carreira acadêmica, na condição de candidato a Presidente da República como segunda opção do PT é uma piada muito sem graça; Aldo Rebelo é o tipo que seria um bom vice, tanto para Cristovam Buarque, quanto para Ciro Gomes, e só também. Todos estes candidatos dividirão votos que iriam pro Lula, mas destes, apenas Cristovam Buarque e Ciro Gomes conseguem agregar outros partidos na sua base de apoio. Cristovam Buarque, pela respeitabilidade – talvez ele seja o político mais ficha-limpa do Brasil – e Ciro Gomes, pela habilidade. Os dois têm baixa rejeição, o que é muito importante, porque se a rejeição é alta você pode até ter boa estimativa, mas com a soma do desgaste natural de uma campanha com a falta de espaço pra crescer, você morre na praia, como vem acontecendo com Marina. E de todos os candidatos da ala progressista, apenas o Ciro possui recal – lembrança – o suficiente para chegar no segundo turno, pois em eleições passadas ele situou em 2º lugar por várias semanas, chegando a cair por faltar com sutilezas que pensava – não pensa mais – ser bobagens.
Cristovam tem um projeto nacional de educação de encher os olhos de quem se importa e sabe da relevância de uma educação pública boa e inclusiva para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Ciro Gomes, por sua vez, arquitetou um projeto nacional de desenvolvimento industrial que pode emancipar o Brasil da condição de celeiro do mundo, mero provedor de matéria prima, nos tornar em pouco tempo auto suficientes em um dezena de setores produtivos e nos colocar definitivamente aonde nossas mentes brilhantes, natureza e vontade de ser grandes nos permitem chegar: o topo do mundo. Em pouco tempo teríamos mais produtos genuinamente nacionais, mais empregos, mais tecnologia fina, e mais um monte de outras coisas que este protagonismo produtivista proporciona atualmente aos Estados Unidos da América. Protagonismo que, só mesmo por falha estratégica, espírito de vira-latas de alguns dos nossos até então presidentes, e falta de coragem de alguns outros de enfrentar o Tio Sam, nós ainda não tomamos.
Portanto, com o Lula fora da disputa o campo se abre. Tanto para uma campanha mais propositiva, quanto em perspectivas de vitória para quem tem na mesma região dele a sua base eleitoral, como é o caso de Ciro Gomes no Ceará – nordeste. Com Lula fora da campanha haverá espaço para a razão e ponderação. Todos serão mais bem observados e terão suas posições consideradas na avaliação de quem é verdadeiramente o dono da vez: o eleitor. Só perde com a saída de Lula do processo eleitoral quem não existe sem ele: Jair Messias Bolsonaro. Este será um natimorto. Aliás, morreu ontem, dia 24 de janeiro.
*Messias Rocha é Investigador de Polícia Civil em Nova Mutum. PCJ – MT, e filiado ao Partido Democrático Trabalhista – PDT.